Skip to main content

Coral Resistência de Negros Evangélicos


Coral Resistência de Negros Evangélicos: Símbolo de Luta contra o Preconceito.


Entrevista do Site Trindade com o Regente Moisés da Rocha


Site Trindade- Como surgiu o Coral Resistência de Negros Evangélicos? Fale também sobre teu papel como Regente.


Regente Moisés da Rocha - O Coral Resistência de Negros Evangélicos, foi idealizado pela pianista e Cantora Nilcéia Netto, para uma apresentação cívico-religiosa, no dia 13 de Maio de 1988, por ocasião da comemoração oficial da libertação dos Escravos no Brasil. Após os ensaios, começamos a discutir o preconceito racial, a exclusão social, enfim as formas de discriminação enfrentadas, principalmente pelos negros, até mesmo dentro das Igrejas Evangélicas, sendo apresentadas, inclusive, várias situações, vários constrangimentos, todos sempre em desacordo com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após o referido evento, um grupo com cerca de trinta pessoas, sentiu-se despertado para a necessidade de dar continuidade do exercício, aceitando o desafio de compartilhar com outras pessoas, as nossas preocupações, dores e esperanças de transformação de nossa  sociedade, levando como lema, o combate a todo e qualquer tipo de discriminação. Meu trabalho como Regente, além da condução do Coral, tem a responsabilidade de proferir palestras, estabelecer contatos e divulgar as nossas atividades, no  âmbito nacional e internacional.


Site Trindade- Qual o repertório musical utilizado pelo Coral?


Regente Moisés da Rocha- Nosso repertório é composto por música sacra tradicional e folclore. A maior parte também é de negro spiritual que caracteriza muito bem o nosso trabalho e nossa mensagem.  Damos destaque para esse último gênero, pois os sentimentos no canto de trabalho, de dor e de esperança dos negros escravos americanos são similares aos nossos. 


Site Trindade- Algumas pessoas ao verem o nome do Coral intitulado “Negro” acham que está sendo excludente. O que pensa você sobre isso?


Regente Moisés da Rocha- É interessante que essa pergunta por diversas vezes tem sido feita em nossas apresentações, principalmente nos debates-diálogos que promovemos nas comunidades. A gente tem respondido sempre que, este é de negros, como poderia ser de italianos, lituanos, chineses, japoneses etc. O curioso é que quase todas as nações que em grande número de representantes tem um Coral, uma Associação, onde cantam em seu idioma natal, ensinam a língua natal. Quando surge um grupo dos afrodescendentes, há um espanto quase geral. Isto confirma a discriminação e a diferenciação, muitas vezes mal disfarçadas em todos os setores de nossa sociedade. Cantar ópera ou qualquer outro ritmo é normal, mas se tiver algum instrumento de percussão, então é coisa de macumba, do diabo e outras bobagens mais.


     O curioso não é o Coral ser integrado só por negros, mas o questionamento sobre a razão que leva uma pessoa a cantar em um Coral de Negros. A inquietação parece revelar um incômodo com a participação num grupo que manifesta elementos da cultura afrodescendente. Por que será que tal atitude incomoda tanto? Enquanto os negros estavam nas Novas Senzalas, cozinhando e fazendo a limpeza dos templos e salões sociais, lhes era permitido tomar parte no canto coral ou quarteto musical pois eram pretos mas... tinham uma voz... ou eram pretos mas... que mão prá cozinhar!


Site Trindade- Que contribuições o Coral Resistência de Negros Evangélicos leva para as Igrejas e para a Sociedade?


Regente Moisés da Rocha - A franca discussão da história real dos afrodescendentes: a denúncia de que o preconceito não é privilégio de nenhum grupo, mas é exercido e muito, dentro das Igrejas Evangélicas. Contar que a Igreja sempre foi omissa e na maioria das vezes conivente com a Escravidão e com todos os preconceitos, pois ela faz parte da sociedade e não poderia ser de outra forma. Deveria ser diferente, se a Igreja atentasse de fato para o cumprimento dos mandamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, das Leis do País, da Declaração  Universal dos Direitos Humanos  e para todos os artigos que estabelecem a igualdade de oportunidades na sociedade que são descarada e hipocritamente desrespeitados. 


 Site Trindade- Qual a importância do dia 20 de novembro, “Dia da Consciência Negra”, para a sociedade brasileira?


Regente Moisés da Rocha- Já está se tornando comum a chacota de não negros, que agradecem pelo feriado que nós negros, em nome de Zumbi dos Palmares proporcionamos. Existe até cidades como Osasco, na grande São Paulo, onde vereadores se recusam a estabelecer em lei nesse sentido, alegando que estariam ultrapassando um número de feriados permitidos ao município.  O 20 de novembro tem de continuar sendo, não mais um dia de descanso nesta grande Senzala chamada Brasil. Tem que ser sim, um dia de macro reuniões de todos os setores da sociedade, Dia de Conscientização, de Reflexão e até de Expiação dos Pecados cometidos há tantos anos, principalmente pela hipocrisia. Pode até ser um Dia de Perdão se houver sinceridade de intenções.


Site Trindade- O que é preciso para participar do Coral Resistência de Negros Evangélicos?


Regente Moisés da Rocha- Para participar do Coral Resistência de Negros Evangélicos, tem que ser afrodescendente,  ter espírito evangelístico de cantor missionário, estar disposto a combater a todo e qualquer tipo de discriminação na sociedade e, de preferência que não tenha experiência Coral. É preciso ter consciência também que o Coral não tem por finalidade promover lucros financeiros e nem preocupação com títulos, doutorados individuais. Cada integrante será apenas mais um componente, sem privilégios, com igualdade de direitos e deveres.    Muita Paz. Axé!!!


Contatos do Coral em São Paulo: (11) 95 33 74 20  ou 78 30 92 86.


Email do Regente Moisés da Rocha: moisesdarocha@ig.com.br


Falar com Moisés da Rocha.