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Culto na Paróquia da Santíssima Trindade em São Paulo


 


Vivências e convivências/1


Culto na Paróquia da Santíssima Trindade em São Paulo


O culto dominical na Paróquia da Santíssima Trindade começa bem antes da procissão, presidida pelo revdo. Arthur Cavalcante. A preparação desse encontro iniciou-se há, pelo menos, uma semana. No sábado, Walter Fajardo ensaiou os dois corais (masculino e o misto). Elismar, Enilson, Davi e toda a equipe do Bazar já arrumaram os objetos a serem ofertados. Prefiro dizer que os produtos do bazar são ofertados e não vendidos, por dois motivos: primeiro, porque o bazar quer criar espaços de diálogos entre as pessoas e, segundo, porque os preços dos produtos são simbólicos.


A celebração dos domingos é um caleidoscópio com vários perfis. Enquanto dona Lourdes organiza o sodalício com novas alfaias (além de preparar o almoço com o tempero de sua dedicação), seu Camilo percorre todas as áreas do templo, sua segunda casa. Bia e Cendy, filhas de Xico e Eliana, circulam entre os adultos. Em um domingo desses, a Bia parecia uma pequena punk, com o cabelo untado com muito gel e óculos escuros.


O revdo. Saulo e dona Rute chegam sempre alegres, apesar da saúde fragilizada. São acompanhados pela filha Priscila e pela neta Débora.  Rute é uma das fundadoras do Coral da igreja, do qual participa há mais de sessenta anos. No coro, a pianista Marisa ensaia as músicas que serão tocadas durante a missa. Xico reúne as notas dispersas e constrói com seu violão, mais uma ponte entre o divino e o humano.


O pároco Arthur dedicou várias horas de sua semana à preparação do Culto e do boletim. Ele se esforça para que tudo seja bem feito. Observa cada detalhe para que a celebração seja a mais participativa. Prepara também com capricho a sua homilia. Anuncia a Palavra de Deus, com um olho na Bíblia e outro na realidade de hoje. Procura despertar e reforçar a consciência dos seus paroquianos para que todos compreendam porque e para que Jesus assumiu a condição humana.


Revdo. Noyama impõe suas mãos consagradas sobre a cabeça dos fiéis. E pede ao Espírito Santo que cure todas as doenças, que dê coragem a cada pessoa para que possa enfrentar todas as dificuldades da vida. A Bíblia é lida em duas versões diferentes: uma tradução ecumênica e outra própria para o culto. Cada crente faz a sua própria tradução, consciente de que o mais importante na bíblia é a história da aliança entre Deus e seu povo. Essa aliança é tão séria que Deus chegou a enviar seu próprio filho Jesus Cristo à comunidade humana, como libertador diante de todas as opressões. Os seminaristas Jorge, José e Ary ajudam o pároco na mediação entre o Povo de Deus e o mistério de Jesus.


É impressionante como a tradição e a contemporaneidade se unem na prática cultual da igreja. Os cantos misturam composições mais recentes (de Xico, de Maraschin e de Flávio Irala) e as músicas tradicionais. De repente eu vejo na fila da comunhão, Luiz Esvael, Elismar, Bárbara Stuart, Emiliano, Vergara, Mara, Paulo e Ideraldo. Na Eucaristia, desaparece a dimensão linear do tempo e todos mergulham no maior dos mistérios. O abraço da paz reenergiza os deprimidos e reforça os laços de amizade e solidariedade.


Começa a fase final do culto. Com a cruz à frente, Arthur percorre a nave central do templo. Depois, deseja que todos e todas sejam corajosos e fortes na vida cotidiana. Recomenda também que todos sejam testemunhas do Evangelho. Por último, os participantes levantam o punho direito, (o que me faz lembrar, noutro momento e noutro contexto, os “Panteras Negras” norte-americanos) como símbolo de união e de resistência...


Na saída do templo, os crentes retomam o contato com a realidade dos Escândalos Urbanos. O culto nunca acaba e recomeça em outros ambientes. E a vida continua sendo vida e morte, alegrias e esperanças, angústias e sonhos. O culto é um mutirão.


Em pleno centro de São Paulo, o templo anglicano recolhe as dores, as alegrias e as esperanças de todos os seres humanos. Sua arquitetura aponta para a esperança da ressurreição.


Dermi Azevedo é jornalista, cientísta político, articulador da Desmond Tutu e membro da Paróquia da Santíssima Trindade.